Aqui, os caminhos chamam aleias e quase todos nos levam ao chafariz das musas...
  1. Visitar o Jardim Botânico do Rio foi trazer à lembrança a profissão de jardineiro que nunca fui e a de dom João VI que nunca sonhei ser.  Percorri as alamedas  de Palmeiras Imperiais, conheci as ruínas da antiga fabrica de pólvora e sorvi um cheiro de um Brasil imberbe saindo das fraldas.

 

Mas o cheiro que falo aqui não é de um país criança, mas uma pátria semente. Uma terra sem asfaltos e sem fumaça, sem assaltos e sem desgraças.  O desabrochar de um país recém colonizado, com suas florestas intactas abrindo suas veredas para uma corte portuguesa decadente em busca de novos ares. É a primeira vez que venho ao Jardim Botânico do Rio e isto me re-veste daquela alegria que só experimentamos quando estamos diante do desconhecido, daquilo que só tínhamos ouvido falar.

 

A atmosfera tropical combinara um encontro com os desejos políticos de Portugal e o Jardim Botânico, incrustado na Floresta Atlântica lembrava tudo, menos o mar e as conquistas ultramarinas. Um refúgio em meio aos selvagens.

 

A estapafúrdia exuberância do relevo da cidade e suas pedras fazendo âncora, a riqueza da sua fauna, as montanhas bamburradas de nascentes e o clima agradável sob as largas sombras da samaumeira fizeram a corte portuguesa plantar suas mudas aqui.

 

Essa fábrica de produção de húmus tem como funcionários os microrganismos nacionais, que elevaram a palmeira à altura Imperial.

 

Essa fábrica de produção de húmus tem como funcionários os microrganismos nacionais, que elevaram a palmeira à altura Imperial.

 

Aqui, os caminhos chamam aleias e quase todos nos levam ao chafariz das musas…

 

Há canteiro de plantas carnívoras que comem só insetos, bromélias e orquídeas que só parasitam o caule das árvores.

 

Enquanto caracóis atravessam a aleia Freire Alemão  em direção a Aleia Barbosa Rodrigues dois anéis se formaram no caule da palmeira Imperial.

 

Uma centopeia dourada caminha sobre o parapeito que separa o lago da passarela e este pequeno carro alegórico experimenta sua apoteose ao cair da tarde outonal.

 

Um bando de maritacas ataca duas araras pacíficas roubando-lhes um pedaço de banana enquanto um macaco prego provoca os transeuntes em cena libidinosa.

 

Um casal de lesmas namora sobre o caule do ipê roxo. Ao final do ato, proclama-se a República.

 

Rio de Janeiro, junho de 2017

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