Aos 53 anos o coração de Givanilda se encheu de alegria

Givanilda viajará para Porteirinha (MG). Lá encontrará as três irmãs

Por Paulo Atzingen

Givanilda Maria dos Santos é auxiliar de serviços gerais no escritório de advocacia no prédio em que trabalho. Veio para São Paulo com 28 anos e até então laborava na roça, no sertão de Alagoas, para ser preciso, em Campo Grande, próximo à Arapiraca. Plantava feijão de corda, amendoim, mandioca e batata.

Givanilda perdeu a mãe aos seis anos de idade e teve sete irmãos, quase todos de pais diferentes. São eles, José, Gervásio, Maria Lúcia, Irene, Francisca, Nilza e José Aparecido. Na década de 60 o sertão alagoano era só desgosto e quase todos os seus irmãos debandaram prá outros mundos, menos secos, mais possíveis. Três de suas irmãs foram para Minas. Givanilda foi criada pelo irmão Gervásio e nenhum contato teve com as irmãs depois que foram. Continuou plantando feijão de corda, amendoim, mandioca e batata até vir embora prá São Paulo. Hoje já é mãe e avó.

Givanilda teve mês que usou todo o seu salário de faxineira em telefonemas buscando encontrar os irmãos, as irmãs. Passou a usar o Whatsapp no ano passado e tanto que procurou, virou-mexeu que aconteceu o enigmático: sua irmã Irene, uma das sumidas, fazia o mesmo, virava-mexia e encontrou o telefone de Givanilda e a adicionou no Whatsapp. Irene, mora em Porteirinha, norte de Minas Gerais, quase na embocadura das terras baianas. Irene contou – via Whatsapp – para Givanilda que a sua outra irmã, a Francisca, mora em BH e a Maria Lúcia, em Montes Claros, todas em Minas. De uma só tacada o Whatsapp juntou essas quatro irmãs que não se falavam a três décadas.

Aos 53 anos o coração de Givanilda se encheu de alegria. Começaram a conversar diariamente e até gravam cantigas de acalanto que elas usavam no tempo do roçado. Mandam fotos uma para a outra e choram cada uma em uma ponta da mensagem. Falam da mãe que faleceu, dos irmãos que sumiram, do rancho de adobe, do colchão de palha de coqueiro, da vida no roçado, do pegar água na fonte, do lavar roupa no rio…memórias… via Whatsapp.

Ideia cintilante

Essa história chegou aos ouvidos de uma estagiária do escritório de advocacia onde Givanilda trabalha. E não é que essa menina, de nome Danielle, teve uma ideia cintilante: “Vamos fazer uma rifa, juntar dinheiro para a Givanilda ir rever suas irmãs?”. Givanilda quase não se aguenta de tanto afeto e amizade que vem de gente que ela menos esperava que viria. A rifa está quase completa. Ela já foi à rodoviária e já comprou a passagem. A rifa só tem nomes femininos. Não tem Givanilda, nem Irene.

No dia 23 de dezembro Givanilda viaja para Porteirinha, Minas Gerais, na embocadura da Bahia. As irmãs, Francisca, de Belo Horizonte e Maria Lúcia de Montes Claros prometem que irão também. Estão combinando tudo pelo Whatsapp.

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