Espetáculo

Os feixes de luz combinados com o spray da cachoeira contra os olhos impedem a completa visão do espetáculo. Entramos num túnel úmido, com paredões com boas braças de altura e chegamos ao grande salão principal com água pelo peito. É uma daquelas sensações arrebatadoras em que palavras descrevem apenas a metade. Estamos no que se acostumou chamar de Santuário da Pedra Caída e a queda é de 46 metros. O espetáculo em si destoa de tudo o que se viu em quedas de água porque é uma queda para dentro do estômago da terra conosco junto. Esse salão principal está incrustado no final de um canyon e para chegar lá é preciso percorrer uma passarela de madeira, se equilibrar em pedras redondas, chatas ou lisas e, dependendo da época, saber nadar.

Os gritos de êxtase e os assovios de alegria ecoam. Altas paredes em arenito formam uma cápsula abaulada e delas despencam fios de água que há milênios estão aqui a deslumbrar os que chegam para contemplar.

Mas nem sempre foi assim. O lugar, esculpido por centenas de milhares de anos por forças além da compreensão geológica, foi durante muito tempo maltratado por usuários sem nenhum tipo de educação ambiental. Lixo e detritos eram deixados ali sem restrição. O lixo e os detritos foram retirados, placas foram instaladas, passarelas foram construídas para facilitar parte do acesso, mas ficou uma marca daquela era: rabiscos rupestres do homem civilizado. É possível, que no futuro, algum astronauta encontre essa cápsula do tempo e ao analisar as inscrições conclua que éramos seres muito enigmáticos.

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