Dez anos têm tijolos
e uma casa pra guardar álbuns
de fotografia
da sua viagem pra Paris
da minha,
pra Cotia.

Dez anos têm belezas
e um barco para sair ao largo.
Dez anos têm uma linha
horizontal
que se encontra em sua
esquina racional,
sua time square
com a minha palafita equatorial.

Dez anos têm incertezas
barracos construídos ao lado
de edifícios sóbrios-elegantes
educados
e essa coisa de sermos
o que somos
na guerra e na calmaria

Dez anos têm manchetes
e verbetes
palavrões
Tem comida gostosa
na cozinha
E pratos espetaculares na Bahia

Dez anos têm espetáculos
Do clássico ao sambão
Do jurássico ao brega
Adaptações da cidade
evolução da espécie
do lagarto ao executivo
Nosso primeiro beijo
em Galápagos

Dez anos têm vulcões
overbookings confusões
engraçadas lembranças
doce certeza
risadas
lambanças

Dez anos
você escreve o sofrer
neste jornal diário.
É guarda
armadura profissional
do humilde trabalhador
ao politico ordinário

Eu descrevo o viver
narro o encadear dos dias
travessia irresponsável
arranco da pedra o inverso
da água construo barragens
sou fluído e disperso

Dez anos eu vi
você é pé no chão
e dá um passo por vez.
Eu sou ilusão e me arvoro
sobre o mundo do talvez

Dez anos
você tem pai tem mãe
e reveste-se de uma couraça de amor
herdada da forma mais antiga
de amar.

Sou órfão ao quadrado
e assim que te vi
no aeroporto
quis ser seu namorado.

Nesses dez anos antiquados
oficializados por decretos
quero te dar o que talvez me falte
quero dizer o que talvez não saiba
já que sou essa evolução carnal
essa bagunça genética
sem nada de espiritual.

Sou o homem que você escolheu
sou o filho que você não teve
e embora não conheça seu ventre
pertenço aos seus próximos anos
e sou o seu eterno presente.

Praia da Enseada, Guarujá, 7 de fevereiro de 2019.

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