(texto e fotos: Paulo Atzingen)

Disciplina de espiritualidade, peregrinações por longos trechos a pé, relatos de experiências missionárias e um profundo conhecimento do evangelho seriam os termos para identificar o Pastor Carlos Queiroz após sua passagem pela Igreja Presbiteriana Independente do Ipiranga na 31ª Conferência Missionária em setembro de 2019.

Embora termos e classificações denotem finitude e limitem características de pessoas nascidas pré-determinadas para uma missão, uma causa ou um oficio, posso afirmar que o Pastor Carlos possui alguns atributos inclassificáveis nos dias que correm e que lembram João Batista no Rio Jordão. Aquele proclamava a vinda do Messias, aquele comia gafanhotos e mel silvestre e aquele se revestia de uma humildade tamanha ao dizer que se diminuiria para que Jesus crescesse. Queiroz proclama a vinda de Jesus Cristo, Queiroz se reveste de uma humildade forjada na dura caminhada missionária, porém não come gafanhotos, mas ainda jejua.

“Em minhas peregrinações pratico o exercício do silêncio e se entendemos o silêncio vamos entender alguns códigos de Deus; todos, de forma indistinta, carregam mochilas emocionais e ao caminhar executam o exercício da reflexão e do desapego”, afirmou o pastor andarilho.

Carlos é pastor da Igreja de Cristo no Brasil, bacharel em Teologia e mestre em Missiologia. Autor de vários livros, foi diretor da World Vision International em Angola e também diretor da ONG Diaconia.

Missão em Tempos de Crise

Ao falar para a igreja, Queiroz não usou nenhum tom coloquial, muito menos professoral. Foi de uma suavidade muito parecida àquela de contadores de histórias acomodados à varanda de uma casa dentro do sertão do Brasil onde o tempo e o espaço estão do lado de cá.

Ao adentrar no tema da Conferência “Missão em Tempos de Crise – Cuidando e Agindo” Carlos tocou logo no ponto central do encontro. “Vivemos uma crise manifestada pela banalização da vida. O mundo experimenta uma demanda e expectativas que devem ser atendidas pelo mercado e as religiões trabalham isso muito explicitamente criando uma indústria da fé para atender essas demandas e expectativas”, falou se referindo à pós-modernidade religiosa e a posição que o homem, em sua individualidade e egocentrismo foi alçado: “Antes Deus era o centro de tudo, depois foi a Ciência. Hoje o homem foi alçado ao centro, impulsionado pelo consumo, por sua ideia de infalibilidade”, frisou.

Carlos manteve sua tênue maneira de falar no entanto a profundidade de sua análise foi subindo escalas: “Deus passou a ser um deus utilitarista e foi destituído de sua glória, e em especial quando chamamos nossa experiência religiosa de experiência com Deus. O culto para mim”, pronunciou, de forma pausada, tranquila e emendou: “Vivemos uma crise porque assimilamos valores vendidos pelo mercado e não aqueles professos pelo evangelho, ao contrário, muitos amam mais a glória do homem que a glória de Deus”.

Distinções

Carlos Queiroz atravessou a fronteira das generalidades ao afirmar que as missões também vivem uma crise interna porque têm dificuldade de compreender o evangelho, vivê-lo em sua simplicidade e (por isso mesmo) em sua plenitude.

“No evangelho de João rompe-se essa distinção entre o humano e o divino. Por meio do evangelho de João temos uma compreensão mais profunda de nós mesmos. Quanto mais humano você for mais vai perceber a presença do evangelho em você”, acentuou. “Na religião não cabe a singeleza da criança, a ternura da vida. No evangelho cabe”, emendou.

Assim pregou o pastorzinho peregrino da Terra do Sol.

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