Mar soteropolitano, mar da Bahia

Diante desse mar misterioso e grandioso como o povo da Bahia, vejo os velhos-novos baianos com aquele coração de Arembepe

Paulo Atzingen

O mar soteropolitano tem algo de infinito comum a todos os mares, mas tem um não sei o quê de uma terra que o limita e o abençoa que é a terra da Bahia. No mesmo instante que vejo sua grandeza azul vejo meu irmãozinho baiano que precisa ser um esmurrador de mil punhos para levar o pão pra mesa; no mesmo instante que meus olhos não alcançam a linha do horizonte sei que milhares de irmãos baianos estão abaixo da linha da pobreza. Sei que milhares de baianos morreram ou foram levados pela barca horrorosa do Covid, sem ao menos se despedirem.

Sei que o meu breve desabafo de homem das letras e do jornalismo não serve para mudar o que está posto diante da marquise da realidade, diante do edifício do seu e do meu ego, mas que esse desabafo ao menos sirva pra dizer – aos desavisados, criticos monotemáticos e aos ignorantes – que os poetas, intelectuais e jornalistas – quase todos eles – compartilham dessa dor baiana, brasileira, da perda, do dano, da dor, da falta de despedida.

Diante desse mar misterioso e grandioso como o povo da Bahia, vejo os velhos-novos baianos com aquele coração de Arembepe, irmãozinhos hippies, da contracultura, da paz e do amor de tanto tempo, quando aqui estive pela primeira vez. Salvador era um monobloco de coqueiros à beira mar, Amaralina, Pituba e Jardim de Alá  eram apenas praias distantes, hoje estão urbanizadas e integradas à urbe formando um grande monobloco de vida vibrante, sob a força de um axé postiço, quase falso. Ganhamos muito com os edifícios, com os hospitais, com os shoppings mas perdemos o cerne daquele olhar para o mar e o poder de ver algo nele de infinito e de tentar explicar e de tentar entender. Vivemos hoje o monobloco das certezas e vemos o mar como o endereço dos peixes comestíveis  ou das plataformas de petróleo ou dos transatlânticos de grande autonomia.

Que este mar soteropolitano seja o meu mar da Bahia, o mar das tartarugas do projeto Tamar, que aqui se reproduzem, seja o leito de núpcias das baleias Jubarte, que aqui se acasalam, e que esses cinco minutos de lembranças que tive – de um passado longínquo – se expanda em mim em um tempo maior e melhor e em você também, dia após dia. É o meu desejo.

Salvador, agora, na Bahia

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1 COMENTÁRIO

  1. Verdade Paulo. O mesmo sentimento da grande perda e do pequeno ganho sent quando fui a Vitória ES. Menos imensidão da natureza e do mar e muito mais obras humanas. Sei não!

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