Meu Macramé
é meio nó cego
arte torta sem refinamento
dessas que não vende
e se oferece de graça
pra alguma vítima
que passa
no momento

Dois pontos simples
como um jogo de dama
Pra lá e pra cá
Macramé
foi minha a arte
sem pretensão
de expor na galeria
foi meu start
e ponte
que me conectaria
às coisas simples
que se ama.

São esses fios
de algodão, lã ou sisal
que teceram
em mim
uma obra
em tapeçaria
deram-me
a forma
as tranças
do que eu não
poderia ser
um dia.

Preferi
o xadrez e o labirinto
das frases sem laço
que não dizem o que parecem
dos nomes sem nó
que identificam o oculto
das palavras sem o acabamento
que não oferecem nexo
apenas o intento
o paradoxo
o vulto.

Invejo o artesão e
a simplicidade
de seu atelier
um ponto pra lá
e outro pra cá
e se completa a trama
e se arremata a franja
do adereço
da arte do fazer.

Invejo o artesão
em seu trabalho diário
que medita a ação
que estiliza a forma
e dá significado ao
domingo
entregando uma praça
uma feira de artesanato
cheia de gente
à gente sem gente.

Quantos têm
apenas o domingo
e a feira de artesanato
como sua obra-prima
da semana?
de fato o artesanato
o artesão e a feirinha
dão mais esperança
que toda literatura
do mundo

O artesão decide a cor
do fio
o comprimento e o tipo
de algodão ou nylon
lã ou fibra de juta
e depois
dá por terminada
a sua arte
(jamais uma luta)
algo palpável
e real
sem interpretações
dramáticas
ou filosóficas
um produto único
feito de nós e técnica
e o principal:
comprável

Não consigo terminar
e dar por fim
a obra escrita
uma palavra
amarrada a outra
e a mais uma
nasce uma quarta e quinta
que conduzem
o tecido do meu texto
a algo nunca visto.
sem acabamento
esquisito.

Finalizar um poema
deveria ser simples
como o nó de marinheiro
que amarra o barco
ao porto
mas ao contrário
terminar um texto
é estar diante
de um mar inteiro.

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