A situação de grana hoje aparenta ser fruto de uma civilização evoluída que só consome o que produz e só gasta o que pode

Antes mesmo de pousar em Berlim a paisagem me avisava que aqui era um mundo diferente: uma variação de verdes esticada até os alpes, e adentrando a cidade como se o verde mandasse no cinzento. A perder também de vista, hélices gigantes responsáveis por boa parte da energia elétrica de tudo isso aqui servia de postal.

Que castelos, umbrais e palacetes iriam me impactar eu sabia, mas o sentido de Estado Econômico  com uma postura sisuda em relação aos outros países da Europa se impunha e eu queria entender porque a Alemanha está tão bem com uma crise estourando ali fora.

E não se trata de uma silhueta de povo prepotente que quer virar as costas para o que acontece ao redor – sabemos como esse povo foi solidário principalmente consigo mesmo nas duas guerras que enfrentou – mas a situação de grana hoje aparenta ser fruto de uma civilização evoluída que só consome o que produz e só gasta o que pode.

Aqui se preparou a infraestrutura para o usufruto de seu povo e dos turistas e o Portão de Brandemburgo e o Muro de Berlim, antes símbolos da guerra, hoje servem para emoldurar as fotos.

A questão da Alemanha ser assim, orgânica, regimentada e ordeira não é moral nem ética, mas trata-se do resultado de fragmentos e perdas que se sedimentaram com o tempo formando um conceito de vida que hoje acostumamos chamar de excelência.

Não vi bêbados, abuso no tratamento, desrespeito a idosos, a homossexuais, imprudência, nem mendigos, nem crianças abandonadas na rua ou idosos pedindo esmolas.

A política econômica do país estabeleceu uma independência do Estado e por isso mesmo se exime de conchavos e falcatruas que facilitam a vida de um em detrimento de outro. Se um “politicus brasilis” aparecesse por aqui com certeza seria fuzilado no muro de Berlim em nome dessa verdadeira democracia. Sim democracia no vestir, no calçar, no caminhar pelas ruas. É gritante a capacidade que o povo alemão tem em distribuir e não concentrar, desenvolver know-how e não esconder fórmulas. Aqui nos faz lembrar de um antigo ditado grego: a riqueza não gera a virtude, mas são as virtudes que geram a riqueza”.

Carros do mesmo modelo dos brasileiros andam por aqui. Isso me faz pensar que só crescemos ou estamos no primeiro mundo porque possuímos os mesmos modelos de carro nas ruas que os alemães possuem. Nossa semelhança acaba aí.

Potsdam

Percorro a pé os arredores da cidade de Potsdam e vejo os bares repletos de jovens entre 20 e 25 anos e, ao lado desses bares, estacionamentos de bicicletas. Aqui a herança de um país inventor do automóvel emprestou uma auto-suficiência à cultura das novas gerações que um rapaz não precisa necessariamente ter carro para ser respeitado. Jovens se orgulham em andar de bike, grisalhos idem já que mantém a forma esbelta e estão no páreo pela luta da espécie feminina.

Potsdam guarda todos os traços das cidades satélites (ou dormitórios) de um país chamado…Alemanha

Há uma comunhão pacífica entre o pedestre, o ciclista e o motorista.

Vive-se a vida! Tem-se a impressão que a ilógica pressa que as grandes metrópoles nos impõe é trocada por uma valorização intensa do tempo, do verde, das crianças e do que ainda resta de vida – no que se refere aos idosos.

Casais de cabelos brancos caminham por ruas de Potsdam e traduzem seu epílogo de uma vida calma, lúcida e grande, o coroamento – pelo menos é o que aparenta – de uma história a dois.

Potsdam guarda todos os traços das cidades satélites (ou dormitórios) de um país chamado…Alemanha. Sim, aqui em Potsdam os bares são silenciosos, não se escuta buzina e aparentemente vive-se um eterno sábado, ou hora da siesta.

A cidadezinha, turística por excelência, tem hoje cerca de 130 mil habitantes e sua atmosfera agradável não dá pista de que aqui na noite de 14 para 15 de abril de 1945 os aviões dos aliados (USA, Inglaterra e União Soviética) bombardearam o centro da cidade determinando o fim da era Hitler.

Visitamos o Potsdam Sanssouci, um parque exuberante que tem como uma de suas construções o palácio de Cecilienhof. Aqui foi realizado a Conferência de Potsdam com a presença de Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Josef Stalin). O objetivo desta conferência (de 17 de julho a 2 de agosto de 1945) era resolver os problemas que surgiram com o término da Guerra, entre eles estabelecer as zonas de ocupação, a desmilitarização, a punição dos criminosos de guerra e as reparações. Estas decisões, tomadas aqui em Potsdam, determinaram a estabilidade do país por um bom tempo. Talvez hoje colhamos o fruto dessa reunião e com certeza podemos posar em paz para as fotografias.

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