O número de pessoas que vem participar do nascer do Sol em Tongariki é relativamente pequeno se levarmos em conta o espetáculo que é ver o raiar do dia misturado aos séculos de tempo que os moais têm em suas crostas de basalto.

Fotógrafos profissionais com equipamentos de ponta misturam-se a amadores, jovens fazendo self para comprovarem que vivenciam isso, midiáticos filmando em câmaras portáteis e alguns contemplando, sozinhos ou abraçados, o irradiar do céu para enquadrà-lo na memória.

As 15 estátuas, enfileiradas, em uma sugestiva posição de sentido, dão as costas ao mar e ao sol que chega e, por esses momentos, parece que nos protege do brilho que cega, do fogo que queima, da luz que mata. São quinze Reis que resguardam a Ilha e que, no passado, defendiam o povoado dos Hotu iti, mas agora retomam sua posição de força, poder e glória.

O astro desponta em seu furor, invade a Ilha primeiro despejando rajadas de ouro na montanha à frente, uma muralha que emoldura a costa. Depois, esse rastro amarelo corre em direção às pedras de Rano Raraku, atras e ao alto, reluzindo a fonte de onde foram arrancados os moais e, por último, toca a cabeça do grande Rei, o quinto da direita para a esquerda.

Neste momento estabelece-se o princípio de rendição do Império, todas as cabeças dos 14 reis mais baixos vão sendo tocadas pelos feixes de luz. E as sombras dos moais alongam-se em nossa direção.

É o início solar da manhã na terra firme mais isolada da Terra.

Paulo Atzingen

Ilha de Páscoa, 13 de agosto de 2017

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