Ney Barra da Veiga (primeiro à esquerda, de camisa branca), em sua agência, em Belém, na década de 90 - (arquivo DT)

Da série ‘Amigo é coisa pra se guardar’

Por Paulo Atzingen

Ser rotulado ou taxado injustamente com termos pejorativos e degradantes além de ter consequências jurídicas severas para quem agride, por outro lado nem sempre a tentativa de contestar é o melhor recurso para o agredido, pois o estrago já foi feito.

Há algumas décadas atrás – quando eu ainda nem sonhava em trabalhar com turismo e escrever sobre – o agente de viagem Ney Barra da Veiga, proprietário da NeyTur Turismo de Belém do Pará, recepcionou um grande grupo de turistas franceses no aeroporto Val de Cans. Não havia contrato de fidelidade para fazer o receptivo e Ney tinha uma profissional freelancer, professora universitária de francês, que simplesmente caiu no gosto da agência francesa e a NeyTur passou a ter exclusividade – a partir daquela data – para os grupos de turistas franceses que chegavam, aos borbotões, à capital paraense.

Essa exclusividade aos trabalhos na NeyTur Turismo e à jovem guia que falava um francês refinado incomodou um colunista de turismo, de nome Fernando Castro, que escrevia todo os domingos no jornal mais importante da época, o A Província do Pará. Em uma edição domingueira o colunista fez essa chamada: “Neytur Turismo: agência trombadinha do turismo”.

Ney conta que o episódio foi desagradável, mas acreditava que pedir direito de resposta iria tornar as coisas ainda mais desagradáveis. Partira do princípio jurídico de quem alega ou reclama tem primeiro que provar, e deixou como estava. Sua consciência não o acusava; tinha clareza do seu direito comercial sobre o grupo de turistas franceses, pelo princípio da livre concorrência. Em alguns dias o fato foi esquecido.

Hilton, na década de 80 (Crédito: arquivo DT)

No mesmo ano (1985) ocorreu um congresso da ABAV em São Paulo.

Ney foi para a capital paulista a convite da ABAV Pará, e como associado ficou hospedado em um hotel cinco estrelas, próximo ao Hilton Hotel. Este congresso tinha vários agentes de viagens paraenses, políticos e jornalistas, entre eles o colunista da Província do Pará e sua esposa.

Como o número de participantes era muito grande, o casal teve que ficar em um hotel de quinta categoria às proximidades do evento. Tiveram que se sujeitar às regras da direção do congresso e, pior, ficaram ainda em quartos separados.

No primeiro dia do congresso, em um almoço de confraternização, entre os integrantes do time paraense, Ney ouviu a reclamação do jornalista de que estava em um quarto separado ao da esposa e em um hotel de baixa categoria. Atentem agora para a atitude de Ney Barra da Veiga:

– Olha Fernando, se você quiser resolver esse problema a contento eu posso trocar de hotel com vocês.  Como estou em um apartamento master, sozinho, em um apartamento de casal, eu posso ceder e passo para o seu apartamento ou para o apartamento de sua esposa.

Fernando, o colunista, olhou de cima a baixo para Ney, o agente de viagem e falou:

“Ney, isso que você está fazendo é inacreditável”. Ney respondeu:

“Não, Fernando, nada disso, nós somos profissionais do mesmo estado e estamos aqui para promover o nosso produto juntos. Um tem que ajudar o outro”.

Fernando foi falar com a esposa e ela concordou na hora em trocar de hotel, ficar junto com o marido e, a partir daquele momento ter o refinamento de um hotel cinco estrelas.

Quando o presidente da ABAV-Pará soube disso, à época, Edmar Fontenelle, não deixou que Ney fosse para a espelunca e chamou-o para hospedar-se no Hilton.

No domingo, lá no Pará, na coluna de Fernando Castro da Província do Pará saiu uma notícia de que a Neytur Turismo estava dando um show de bola no Congresso da ABAV e que suas vendas de pacotes tinham batido todos os recordes.

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*Paulo Atzingen é jornalista

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