O fogo do Pantanal
sopra nossas cinzas
aos
tempos de indignação
Insulta nosso hábito de terceirização
E lá onde o Mato é Grosso,
o mundo é moço
o vento é forte
e o tempo é tosco
vejo cortar o céu um corisco
uma língua flamejante
que mata a onça, a cobra,
os bichos
o mico leão
o guaxinim
seca a cacimba
e o rio vira pó
em Poconé.
E na cidade, o elegante
diz que é o índio
o incendiário
ou bota a culpa no verão.
O fazendeiro defende
a colheita da soja
e a justa
exportação.
Todos têm uma fatia de razão
E justifica -se o contraditório
Mesmo que muitos tenham
uma réstia de culpa
no cartório.
Se existe crime em
fazer roça pro milho
como os Bororos
fazem
ou plantar capim
pro boi
como os rurais
fazem
que haja sentença maior
perpétua
e sem perdão
para o covarde
que incendeia a floresta
e a usa
como marco
da provocação.
E a usa
como marca
de sua tribalização.
Enquanto o jugo
do mundo não vem
Clamo aos céus
que nos livre de todo mal
e derrame chuva
o mais rápido possível
sobre os animais, as plantas
os homens e os rios
do Pantanal.