Profeticamente os atentados terroristas da atualidade e as chacinas nos presídios foram antecipados pelo autor

O livro que retomo após uns 30 anos continua jovem. Ele agora me lembra o filme “O DOADOR DE MEMÓRIAS” de minha história recente. Ele, o livro, coincide com um momento admirável e novo: a minha casa nova, carregada de caixas a serem abertas. Que bom termos ainda as caixas com memórias e que nos lançam a sentimentos de natureza humana, familiar. Que bom poder sentar em casa e ter paz de espírito para ler um livro e refletir sobre ele e conversar sobre ele. A obra de Huxley escrito nas décadas de 30 do século passado serve para a década de 20 do século XXI: o embate entre homens modernos vivend em uma sociedade limpa e desinfetada contra selvagens cheios de sentimento na curva do planeta. Hoje, a selvageria está na esquina, nos presídios, nos palácios. Profeticamente os atentados terroristas da atualidade e as chacinas nos presídios foram antecipados pelo autor.

O Deus que eles, a sociedade civilizada, invocam é um tal de Ford (a máquina) e os Beta, Alfa e Ipsilones são as castas sociais em que vivem com aparente harmonia. Muitas palavras de Huxley, lidas na década de 80 eram para mim incompreensíveis. As frases longas e os períodos complexos também. Hoje, além dos livros, pessoas fazem o link para fios desconexos.

Em conversa recente com meu amigo Ricardo Aly citamos indiretamente o livro quando me disse: “As pessoas estão velhas por dentro, mas muito bonitas por fora”…

No livro, quase no finzinho, quando o selvagem Jonh vai visitar sua mãe no hospital para Moribundos – uma espécie de matadouro pós-moderno – ele encontra lá pessoas com fisionomias jovens e sem rugas a caminho da morte,”pois a senilidade galopava tão depressa que não tinha tempo de envelhecer as faces – somente o coração e o cérebro“, descreve Huxley.

Que possamos, nesse meu, nesse seu, nesse nosso admirável mundo novo, envelhecer a pele, e tenhamos força para lutar e manter o cérebro e o coração sempre novos.

Publicado originalmente em janeiro de 2017.

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