Um ano difícil e inesquecível! Uma viagem à terra de Cervantes abriu meu lado máquina de sangue já em janeiro. Comecei 2025 reafirmando que é preciso ser Dom Quixote de la Mancha para enfrentar tanta lógica e realidade misturadas agora com essa coisa de Inteligência Artificial.
Um ano de perdas e danos, mas também de muito aprendizado, espiritualidade e amor. Ainda em fevereiro, conheci o Carnaval de Recife e construi em versos o Galo da Madrugada sustentável feito de garrafas pet. Fui pra Nazaré da Mata e mergulhei no Folclore do Maracatu Rural com sua profundidade mística.
Em maio, em Ouro Preto, conheci dois mestres da Pedra Sabão, Liborio e Vicente Bretas que aos 80 anos seguem como discípulos do Aleijadinho em uma luta diária com a pedra de ser artista. São dessas pedras que arranco a água da criatividade e o leitmotiv para as minhas histórias.
Em junho vivi a morte da minha irmã caçula, Mônica, lá no Tocantins. Atravessei todo aquele Cerrado e cheguei em Araguaína duas horas após sua partida. A dor e a angústia da perda tentei mitigar com o poema Mensageira do Vento, mas em vão. Sua ausência ainda dói e não há poema que a substitua.
Perdi alguns amigos que me simplificaram e me rotularam como de esquerda…outros fiz questão de me afastar porque ficaram simplórios em seus julgamentos. Mas ganhei dezenas, centenas de novos amigos e amigas não por bajulá-los, mas por dar a eles e elas o devido merecimento e respeito por ser o que são.
Este ano visitei a Casa de Mario Quintana, em Porto Alegre, que mantêm-se inundada de livros e cultura gaúcha e fui ao norte do Norte de meu país e conheci o Monte Roraima, avistando-o lá da comunidade Paraitepuy. Uma lição de humanidade quando fomos recebidos por um coral de crianças indígenas cantando em sua língua mãe, o pemon. Fiz amizade com as mulheres cafeicultoras Karynna Makuxi e Ana Caroliny, na terra indígena Raposa Serra do Sol e vi como funciona o turismo com base comunitária.
Em setembro retornei ao Araguaia e pude rever as histórias da Serra dos Martírios / Andorinhas. Lá, diante de tantos enigmas nas rochas perguntei no poema:
“O que quer dizer este risco rupestre?
É a pergunta da alma de todos no mundo
Viemos do pó de estrelas cadentes?
Somos um sopro do Espírito Santo?
Ou rude resposta de um erro celeste?”
Em outubro e novembro meu filho Tales casou com a Bianca (foram duas cerimônias), tendo o rio Amazonas, o Atlântico e eu como testemunhas; ganhei uma nova família no Norte que permanece em mim tão forte como nos meus 20 anos.
Me aproximei mais de pessoas sintonizadas com o que faço e com o que sinto. Viajei com o fotógrafo Canindé Soares por Pernambuco e vi o tamanho de sua fraternidade com nossos irmãos nordestinos, oferecendo ao mundo e ao brasileiro imagens que são como pão para a alma.
Escrevi reportagens menos como dever de ofício, mais pelo prazer de me entregar a um tema, a um assunto que adoro. Fiz entrevistas com pessoas de todo o calibre, de presidentes de rede hoteleira a camareiras, de superintendente de hidroelétrica a guias de turismo. Publiquei crônicas, compus poemas e resenhas de livros.
Estive várias vezes no Rio este ano e lá descobri que minha mente é paulista, funciona como uma máquina, mas minha alma é carioca, pois sintoniza-se com a forma leve desse povo com sua alegria e inteligência emocional.
E é essa luta entre a máquina mental e o coração humano que me acompanha. Tenho a água e a vida dos rios dos Amapás, misturadas às inscrições rupestres dos Araguaias, tenho o aço, o concreto e a indiferença das Brasílias, mas trago a força resiliente dos gaúchos, dos sertanejos, e de todo aquele que luta contra si mesmo e seus moinhos de vento! Nenhuma enchente, nenhum dilúvio, nenhuma decepção afogará minha alma!
Que venha 2026!!!
Leia, se quiser:
Libório e Vicente Bretas: mestres da pedra-sabão e discípulos de Aleijadinho
Hotel inundado pela obra do Poeta Mário Quintana em Porto Alegre
Crianças de Paraitepuy lançam flechas de sabedoria e provam que a paz é possível
Serra dos Martírios / Andorinhas: um mergulho na história do Araguaia























