No último ano conheci a Praia do Sancho, um acidente lindo do percurso, em Noronha.
Desci a escadinha para chegar à praia e ninguém do grupo me acompanhou. As aventuras – e nem precisam ser suicidas – são quase sempre solitárias e pagamos o preço por elas. Atirei-me no mundo desde cedo, desci escadas, segui estradas, cruzei veredas, fiz voos solos. E estou aqui, pensando e sentindo. Inquieto.
Da areia avistei o Morro dos Dois Irmãos e o ângulo, o sol e o vento me trouxeram a bruma da lembrança. Fenomenais nasceram, como xifópagos, e ali ficarão até o fim dos tempos.
Na bagunça daquele azul turquesa e peixes e algas e sal e sol, na alegria que o movimento dos ventos me trazia, vi que minha experiência era única, intransferível e que os prazeres e os resultados dessa experiência – e de todas as outras da minha vida – eram exclusivamente frutos de minha audácia e vontade.
Corri contra a onda e mergulhei. Vi um carnaval de peixes. Emergi com os olhos ardendo em sal. E nessa busca recriei um momento novo em folha e tive como recompensa um minuto próximo à unidade própria de mim mesmo.
Meu irmão, mesmo gêmeo, jamais sorveria a mesma quantidade de sal que eu sorvi, nem olharia a quantidade de peixes que vi porque a quantidade de sal e o número de peixes serão sempre outros para ele.
A aparente solidez destas corcovas de montanhas acinzentadas que se erguem à minha frente virará poeira com o passar das eras e mudará de cor. Minha passagem é agora um relâmpago neste arquipélago, mas quando esta lembrança vier-me à tona, no futuro, brilhará como a presença, lado a lado, de um irmão amigo, xifópago, que sempre se ausentou.
Me vejo te seguindo em mais uma aventura , sem que você possa perceber a presença de alguém que quer demais estar ali, contudo sem te privar do prazer de viver tudo que há em si!
Me vejo te seguindo em mais uma aventura , sem que você possa perceber a presença de alguém que quer demais estar ali, contudo, sem te privar do prazer de viver tudo que há em si!