Estas pessoas sob o viaduto
formam famílias em volta do fogo
são refugiados da própria pátria
com suas histórias interrompidas
com suas memórias entre feridas
expostas no inverno e no verão
esperam…
A silenciosa revolução.
Esses moradores de rua
sozinhos, em dupla, casados
com um cachorro enroscado
fazem o enfrentamento
de uma verdade crua
de uma vitrine ao contrário
de um desviver diário
bebem asfalto
comem cimento.
O que eu posso oferecer
em caridade
sob o pretexto de uma suposta
bondade
adquirida no hipermercado?
A silenciosa revolução.
Quero quebrar a barreira
e pular esse fosso profundo
que existem entre a boa vontade
de um coração curado
(imperfeito)
de todo esse abandono
de toda essa solidão
que estão postos no mundo.
Quero oferecer uma parte
do melhor que existe em mim
e que por menor que seja
produza uma fagulha
uma centelha
e faça ficar acesa
aquela fogueira sob o viaduto.
Quero oferecer uma parte
do melhor que existe em mim
Uma touca, luvas, meias
Um cachecol
e ao ouvir obrigado
do homem invisível
que puxa a carroça
este ser que me habita insensível
sinta a força do Sol.
Quero oferecer uma parte
do melhor que existe em mim
e ao fazer isso
de forma misteriosa
anônima, interna,
silenciosa
aconteça
a definitiva revolução
que derrota exércitos
fecha partidos, extingue governos
e cala palavras:
A compaixão.
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Texto dedicado aos irmãos e irmãs do MASD – Ministério de Ação Social e Diaconia da Igreja Presbiteriana Independente do Ipiranga.
São Paulo, 3 de julho de 2021
Um afago que bofeteia a indifeença. E que chega terra na crença de virar esse jogo. Poesia referenciada em uma chaga social, mas longe dos arroubos carbonários… Ou da chatice linear inspirada no chamado ‘realismo socialista’…