Para a amiga Rose Almeida*
Essa estrela cadente
que despenca no céu
é a inquieta alma do Cosmo
que expressa seu canto
refaz a trajetória
nesse pano de fundo do passado
e nos cobre com seu negro manto.
Esse mapa cósmico
que Rose Almeida me traz
busca meu endereço de criança
naquela rua de paralelepípedos
onde aprendi a andar
naquela calçada de pedrinhas
em que me fiz garoto.
Naquela casa pintada de amarelo
onde mamãe, papai e os irmãos
formavam comigo a família
aprendi o que era o amor
o bem, o mal, a dor e o belo.
Esses pequenos bonecos
que a Rose traz
simbolizam o que serei
e o que será
mas também o que ficou pra trás.
São bonequinhos brancos e negros
homens e mulheres, adultos e meninos
que se expressam a partir
da escolha que faço
e da posição que os coloco
na tábua redonda
estabelecendo ali um elo, um laço.
Pergunta-me Rose, o que o coração diz?…
Vejo papai de frente pra mamãe
naquela parte da história
quando se uniram em casamento.
Respondo-lhe sem dúvida: “foram felizes, sou feliz!”
Mesmo depois de tanto tempo.
Na mesa multicolorida
da constelação familiar
saltam-me aos olhos enigmas:
uma ponte, um céu e um muro.
Vejo-me abraçado e amado
por irmãos, pais e ancestrais
mesmo tendo sido imperfeito
inconstante e impuro.
São Paulo, 27 de abril de 2025.