É um prazer ficar olhando o céu sem nuvens no inverno e ver o sol se por levando seu calor para o outro lado do mundo. E é confortável saber que a mecânica dos planetas fará a terra dar uma volta em si mesma trazendo de volta os feixes de sol logo de manhãzinha. A massa polar invade o trópico de capricórnio e preenche de frio tudo, cadeiras, lençóis, roupas, travesseiros e se deixarmos, até a alma.
Da janela, olho para dentro e vejo que criamos universos particulares invioláveis, abrimos nossa casa fraterna, mas ela é cheia de portas internas e cadafalsos. Obedeceríamos a dinâmica dos planetas com seus sóis rotativos que se ausentam por algumas horas para depois renascerem em luz, força, calor e solidariedade?
Ando pela rua com meus pequenos problemas na cabeça e ao chegar à calçada, um jovem me pede dinheiro. Ele carrega duas mochilas e está desorientado. O frio cortava.
“De onde você vem?” Pergunto enquanto o olho de cima a baixo…
“De Volta Redonda… a casa do amigo que procuro não existe e….” antes do viajante me explicar tudo, uma lágrima despenca de seu olho direito.
A sinceridade desse jovem me nocauteia. Minha auto-defesa dos atores farsantes de rua e das vitimas da vida não se manifestam.
“Para onde você quer ir agora?”
“Não sei…”. Respondeu-me, fraco, desorientado. Não era uma farsa. Tirei o pouco dinheiro que tinha na carteira e lhe dei. Segui meu caminho.
Chego em casa e fecho as janelas para que o inverno não vença.
Não tive a coragem de convidar o jovem para se abrigar em casa nessa noite fria de julho. Talvez tenha o ajudado com aquele trocado e isto me servira de consolo. A lua aparece no céu e uma centelha de Esperança me toca a pele, mesmo sendo apenas um reflexo.
Obedeceríamos a dinâmica dos planetas com seus sóis rotativos que se ausentam por algumas horas para depois renascerem em luz, força, calor e solidariedade? Qual o tamanho da nossa noite?
São Paulo, Inverno de 2010- (SP Inverno de 2017)