Se os 26 degraus da escadaria principal do Grande Hotel Escola Senac Águas de São Pedro falassem teríamos assunto para uma vida toda. Sua beleza e simetria fizeram milhares de pessoas posarem para uma foto, antes mesmo da era self. Todos os hóspedes que passaram por aqui, visitantes, príncipes e princesas, presidentes e governadores, artistas, fornecedores, alunos e funcionários do GHSP foram provocados para cristalizar sua imagem no tempo por meio de uma foto nessa escada.

Por Paulo Atzingen (de Águas de São Pedro)**


Os salões que ornamentam e compõem o conjunto dessa obra de arte  possuem móveis em art-decó, e seu piso em xadrez  granilito nos projeta à  área de guichês de Congonhas (inaugurado alguns anos antes, em 1936). Os lustres de alabastro e a porta giratória com a assinatura GH gravada na madeira integram essa cápsula do tempo.

Cada um desses degraus deve guardar o peso do véu de milhares de noivas que desceram essa escada para o casamento; cada um desses degraus devem conter a força concentrada dos saltos dos milhares de sapatos de alunos e alunas que se formaram em Hotelaria e Turismo pelo Senac.

Cada um desses degraus deve ter a marca dos passos das centenas de funcionários que algum dia foram fundamentais pelo simples e nobre motivo de servir.

São três lances de escada que embora simétricos são acompanhados por um corrimão de metal suavizado pela cor do ouro. É nesse corrimão dourado que me apoio.

No segundo lance, colado à parede, há uma espécie de chapeleiro ou porta-bengalas em madeira de lei saído do tempo em que usar chapéus ou bengalas era elegante. No cerne da escada uma orquídea exibe sua cor lilás.

Penso na tonelada de mármore trazida da Europa nos anos 30 do século passado que serviria para esculpir o gosto pelo belo, pela arte e pela engenho mesmo que esse mármore fosse para ser pisoteado. Penso na tonelada de ferro e cimento escondido sob esse mármore, e também nos operários que não puderam aparecer na foto, mas que estão ali incrustados no veio mais profundo da alma desse hotel.

Senhorinhas

Vejo essa escada recheada de senhorinhas e senhorzinhos que desciam em seus robes de chambre para os banhos medicinais nas águas com enxofre. Vejo essa escada cacheada de gente fina elegante e sincera indo ou vindo dos cassinos aqui instalados na década de 40.

Este hotel octogenário já passou por diversas cirurgias. Estéticas, corretivas e muitas adaptações para os tempos vindos. O gramado frontal, por exemplo, ganhou um jardim contemplativo, a face do hotel. Nele há uma escultura de pedra amadeirada e fontes mijam jatos de água límpida dando vida e movimento a tudo.

Os outros ambientes do GHSP – as suítes,  os restaurantes, as áreas de lazer, as piscinas, o parque aquático, as trilhas e os jardins têm suas belezas características e magnetizam ali, na hora, os olhares velozes e consumidores do que é novo e utilitário, mas a escadaria tem um mistério e obriga quem a observa a um olhar mais atento e demorado.

O conjunto da engenharia original, paga e idealizada por Antônio Mourão Andrade, assinada por Luís Carmelingo nos conduz a um período em que as coisas caminhavam mais lentas e não existia elevador. O sentido real de uma escada é que ela sirva para levar de um andar a outro e ponto.

Mas o sentido abstrato da escadaria do Grande Hotel Escola Senac Águas de São Pedro é que ela serve para nos elevar a um outro patamar do tempo e nos envolver com sua aura de nostalgia, engenharia, esperança e encanto.

 

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