Minha sorte, segundo meu amigo quirólogo, estava traçada na linha de minhas mãos.
Estive hoje na casa de meu amigo colombiano, em Campos do Jordão. Conheci-o nos tempos de Belém. Ele é artista plástico, metafísico, quirologo. Uma figura ímpar. Conversávamos sobre os dons de Deus sob uma araucária em seu quintal. Ele, como um vício, fez a leitura de minha mão e prognosticou rupturas, cadafalsos interrupções, desistências de alguns projetos.
Interrompi-o – um pouco incrédulo e um pouco crédulo- dei uma boa gargalhada e disse-lhe que minha esperança estava renovada e ela se resumia à graça- dada por nós por Cristo e que, mesmo enigmática e de difícil compreensão era o que me dava vida nova, o que me dava força, o que me dava motivação para conversar com o pobre – no lugar de engravatados, ouvir a natureza ao invés da fábrica de cimento, ser convencido pelo microcosmo da simplicidade no lugar do marketing.
Falamos da física quântica e dos grandes avatares que renunciaram a uma vida confortável, às vezes opulenta para uma existência asceta, minimalista. Sidarta, Krhishna e Cristo.
Meu amigo colombiano é um asceta. Na encruzilhada do caminho seguiu o rumo dos rebeldes artistas que possuem o dom estético da plasticidade e tem um link para a compreensão cósmica do Todo, na pintura dos espaços. Estudou a cultura persa-hindu e tornou-se um iniciado da quiromancia. Por um breve espaço de tempo lembrei ali, sob a araucária, da grande frase do Messias, aqui parafraseada: “Vinde a mim os ‘artistas e os quirólogos’ pois é deles o reino dos Céus”.
Minha sorte, segundo meu amigo quirólogo, estava traçada na linha de minhas mãos. Nunca havia contestado suas previsões, uma para manter a amizade, outra por respeitar culturas que não tive a grandeza, o tempo e a inteligência para compreender.
Disse-lhe do imerecimento que temos de tudo e de nossa insignificância no Cosmo e que não éramos salvos pelas obras e nem pelo destino, mas que já estava escrito, lá no princípio dos tempos, a graça a que fomos outorgados na grande matemática quântica de Deus. Eu já estava no lucro. Meu amigo colombiano olhou-me com um misto de espanto e incredulidade e antes de eu acrescentar algo para ser mais claro, quase me auto-explicar, do alto de suas mais de sete décadas de vida me respondeu: “Obrigado Atzingen por lembrar-me disso. Tenho a natureza ao meu redor, tenho a arte minha amante e amiga, tenho este sol, este vento e este ar que respiro. Acredito nesta graça, ja que tudo me é dado sem eu dar nada em troca. Apenas não compreendi isso lendo a bíblia ou frequentando templos”.
Meu amigo colombiano, grande asceta com suas plásticas e práticas que eu não mais acredito recebe todo dia a maravilhosa manhã da serra do Jordão, de graça.
Campos do Jordão, 8 de novembro de 2017