O primeiro dia em direção ao santuário Inca foi marcado pelo desprendimento. Desprender-se do cimento armado e preparar-se para a montanha de pedra. Desprender-se do céu carbônico da metrópole paulistana e sobrevoar as pontas de cristal das montanhas dos Andes.

Por mais que ainda guardemos as impressões digitais do mundo em que vivemos, e tentamos processá-lo o tempo todo explicando-o e rememorando-o, em uma busca para não perder o fluxo lógico da memória, seguir em direção ao Andes está diretamente relacionado a ir à procura de um passado ainda mais distante, não vivido, não experimentado e que jamais será entendido e descrito em sua totalidade, pois ele não está em uma memória individual, mas coletiva, em um tempo indefinido. Tiawanakus, incas, xavantes, maias, foram impérios, povos pouco compreendidos. Se enveredar na selva peruana e absorver as nuances de uma nação engenheira que colocou os blocos de pedra equilibrados na ponta de uma montanha é uma experiência que me fará calar diante de tantas bocas, assuntos, falas e opiniões; diante de tudo o que acontece no presente e a que chamamos de moderno. A engenharia inca é quântica e pelas fotos e relatos que absorvi durante todos esses anos dá para perguntar: Eram os Deuses Astronautas para levantar aquelas pedras colossais? Mas agora, além dos relatos e fotos, tenho minha leitura…

Seguir em direção ao Andes está diretamente relacionado a ir à procura de um passado ainda mais distante, não vivido

Não vejo o momento de estar diante daquele cenário que mistura nuvens e floresta sobre os imensos pedregulhos polidos pelas eras, encaixados milimetricamente com uma espátula gigante e com um cimento chamado gravidade.

A cordilheira aparece ao longe, enigmática como uma barreira de topázio rasgando o continente ao meio, fora a fora.

É um deserto de gelo e rocha, neve e lama vulcânica, entremeado, é claro, por lhamas, gente, rios e várias cachoeiras com possibilidades terapêuticas, medicinais e… míticas.

É para lá a direção que caminho, pela segunda vez… deixarei-me engolir pelas gargantas de quartzo e abismos de ar…

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