Por Paulo Atzingen
Esta imagem é um sopro
congelado da história familiar
os anos – mil novecentos e trinta
Tempo em que a fotografia
era um evento tão celebrado
que se colocava a melhor roupa
se perfumava
para ser fotografado.
É uma foto com os meus ancestrais
tempo do Estado Novo
de Getúlio Vargas e do café paulista
Como sei disso?
As vestes de época os ares contritos
E a matemática da idade
de quem identifico
Nessa imagem antiga
e de baixa definição
os pixels se pulverizam
sugados pelo passar do tempo
somam -se a isso
a embotada memória
dos rostos, gestos e
olhares
do que se perdeu no vento.
No tempo da terceira República
brasileira
quem será o homenzinho à esquerda
com cara de medo
será o caçula?
quem será que é?
minha irmã Elizabeth
revela:
É o nosso pai Noé.
O olhar severo dos meus avós
e o tom escuro de suas roupas
acentuados pela figura
do padre ao centro
com sua batina escura.
As vestes dos jovens
são brancas
Tia Cida, Abel e Margarida
e uma menininha ao canto
será Maria?
tão pura.
Entre meus ancestrais
que viveram espremidos
entre duas guerras mundiais
tivemos também
alguns (ou vários) homens de fé
esse padrinho
ao centro da foto
alguém me cutuca
(pra não esquecer)
é o padre Juca.
Essa imagem dos avós
Francisco e Sofia
diante da casa antiga
em Pirassununga, no interior
antes que vire miragem
vai ser lembrada
por nós
sempre
com amor.
Poema de 16/2/2020, atualizado dia 2/11/2023