Quando as pirâmides das coisas, dos teres e afazeres
Nos incomodam com sua métrica
Pegamos as bicicletas e vamos
Sem pai e sem mãe
Cair no mundo.
Filha e filho para a curva de sermos
Nós mesmos.
Lembro de nós entrelaçados
Sentimento e asfalto misturados
Cruzando caminhos abertos de terra
Marahu, Guamá, Cotijuba, Bolonha
Ruas com terra areia asfalto que escorregam
Por entre os passos que rodam
Para um tempo
Que sai
Descendo a ladeira que sobe
E cai.
A bicicleta andava em nós
Quando lembramos em andar nela
A ladeira sombreada dá para o vale de prédios
A rua estreita permite ao sol beijar a face
Duas crianças que descem em si
A respiração aumenta e os automóveis de gás
Se rarificam quando abre o verde
E a gente vai
Pernas e braços abertos ao vento
Na contra-mão-ladeira
Pedalar
Atravessar o sinal fechado
Escapar do caminhão
Da ambulância
Do carro-tumba
Escapar da morte do ser
Fazer inveja aos executivos que passam
Exercitar a alma
São dias felizes os que correm
E o que corre em nós.
(Belém, 2002)