O ar
essencial
leva o corpo à uma ilha interna
com a sutileza de uma âncora
jogada no mar da arrebentação
amarra o transatlântico
com uma linha fina
um barbante de algodão
ao cais de si mesmo.

O ar
fenomenal
estanca o tempo em dois hemisférios
o primeiro chupa o passado como um bagaço 
de vitórias, empates e pisadas na bola.
O segundo puxa o amanhã e o daqui à pouco
enxertando medo
ansiedade
correr ou lutar
fortuna ou esmola.

O ar
monumental
molda o cacoete de respirar mal
usar e jogar no lixo
o plástico do descontrole remoto
amarrado ao rabo do animal
que inspira e expira
vinte e quatro horas por dia
sem se dar conta
de sua essência.

O ar
descomunal
entra pelas narinas
espraia-se por entre poros e células e órgãos
do corpo grosseiro
ao sutil
constrói o milagre
do impermanente
destrói o edifício que foi construído
na avenida central
com fachada de vidro
e devolve a calma, a paz
permanente
aprendida lá atrás
com o ar
do Oriente.

São Paulo, 6 de junho de 2021

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