Na trilha do Chapadão ele identificou a flor com sua delicadeza hermafrodita que deita sobre a superfície agressiva com suas coroas de espinhos (Crédito: Eliseu Thomae)

Ele é andarilho das altitudes e de uma plenitude escapada do solo. É provocador das dores da inércia e esmurra o boneco de pano sentado na sala assistindo Netflix. Ele é instigador de um ciúme saudável, de um crime passional, identificado na nossa auto-sabotagem da felicidade. Por que eu ainda não fui lá? Ele foi! Mas ele não apenas passou. Ele entrou.

por Paulo Atzingen*


Ele é  viajante das trilhas inimagináveis salpicadas de nascentes e veios d’água,  bípede implume amigo dos condores, falcões, codornas, pássaros do chão e do céu, caminheiro das estradas de pó na busca utópica das areias de ouro de Elomar; investigador do pôr do sol entre a fresta da escultura arqueológica e o reflexo da natureza espetacular que tem uma gota de orvalho sobre a folha matinal.

Mais adiante, no Chapadão, ele mostra numa grande angular a superfície de tabuleiros, que faz uma saliência na mente

Na trilha do Chapadão ele identificou a flor com sua delicadeza hermafrodita que deita sobre a superfície agressiva com suas coroas de espinhos; sua foto paralisa este milésimo de segundo para todo o sempre, amém. Ainda, mais adiante, no Chapadão, ele mostra numa grande angular a superfície de tabuleiros, que faz uma saliência na mente dos que olham ao longe e de tanto olhar a imaginação dá um salto para perto da curva do mundo, onde a terra confunde o céu.

No Vale do Catimbau, ele capta a fosforescência do cacto encontrando seu êxtase ao explodir suas flores rubis

No Vale do Catimbau, ele capta a fosforescência do cacto encontrando seu êxtase ao explodir suas flores rubis em uma ordem que obedece a dança dos planetas, mas também a órbita invisível do minimalismo – flor e espinhos dançam frenéticos – e fractais – sob a tarde – e diante de um arranjo musical feito pelo vento do agreste pernambucano, alinham-se na precisão da água da chuva, na precisão de uma gota do céu, na precisão só vista nas famílias dos mandacarus – que mesmo no estio não perdem sua majestade, sua elegância e sua clorofila.

Na precisão de uma gota do céu, os mandacarus – mesmo no estio – não perdem sua majestade, sua elegância e sua clorofila

Ao captar essas mensagens do astral que a luz permite em sua linguagem sideral e atemporal,  esse compositor de tons nascido de uma linhagem apartada da comum, embute nisso tudo o recado da simplicidade e por tabela, o recado da autenticidade. Torna tudo mais acessível, claro, disponível.

Este investigador do pôr do sol, este andarilho das altitudes acaba de fazer um pacto visual com você, leitor do DIÁRIO. Ele é Eliseu Thomae.


*Paulo Atzingen é jornalista

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