Martírios
Cachoeira de Santa Izabel, no Rio Araguaia, antigamente chamada de Cachoeira Grande (Crédito Noé von Atzingen)

Memórias do Martírios: Primeiras ocupações não indígenas no Baixo Rio Araguaia e Rio Tocantins

por Noé von Atzingen – Setembro de 2023


Desde o século XVI os rios Araguaia e Tocantins foram utilizados como “estradas” por aventureiros e bandeirantes na busca de riquezas e para aprisionar indígenas. O primeiro registro que se tem de alguém passando pelo Rio Araguaia (Paraupava), é de Antonio de Macedo e Domingos Luiz Grou em 1590.

Obra de Coudreau, 1897: Voyage au Tocantins Araguaya

As primeiras tentativas de assentamentos foram no século XVIII, quando missionários católicos, com apoio do governo português, instituíram os Aldeamentos Indígenas, onde os nativos eram reunidos para trabalho, muitas vezes escravo.

No século XIX, o governo instituiu os Presídios: Pequeno núcleo de construções, localizadas em pontos estratégicos, que continham uma cadeia, uma capela, um estaleiro e alojamentos para a guarnição militar e para religiosos. O Presídio tinha as funções de proteger moradores e viajantes dos ataques dos indígenas arredios, servir de entreposto comercial, facilitar a navegação e catequizar os indígenas.

Vejamos a seguir algumas datas importantes na ocupação das margens do rio Tocantins na região compreendida entre Tucuruí (Alcobaça), ate o encontro com o Rio Araguaia.

Utilizaremos principalmente a obra de Coudreau, 1897: Voyage au Tocantins Araguaya e o artigo: Presídios militares e o Povoamento às Margens do Araguaia:

Negociações e Conflitos (Unitins 2013).

Coudreau partiu de Belém em 31 de dezembro de 1896, subiu o Rio Tocantins no vapor General Jardim até Alcobaça. Dali subiu em canoa, a remo, os rios Tocantins e Araguaia, de 7 de janeiro a 23 de maio de 1897, chegando até o norte da Ilha do Bananal.

Em 1810 as primeiras casas são construídas em São Pedro de Alcântara, em território goiano (atualmente estado do Tocantins). Em 1816 apenas duas casas ainda existiam em São Pedro de Alcântara.

Memórias dos Martírios
Burgo Agrícola Itacayuna (ilustração do livro de Coudreau)

Burgo do Itacaiunas

Em 1836, a Vila de São Pedro de Alcântara muda-se para rio acima, estabelecendo-se na margem maranhense do rio Tocantins, recebendo o nome de Carolina. Em 1895, Carlos Leitão tenta estabelecer o Burgo do Itacaiunas, provavelmente onde hoje é o bairro do Amapá em Marabá. Porém, a morte de 19 pessoas, por malária, durante os nove meses que lá estiveram, faz com que mude o Burgo para alguns quilômetros rio abaixo. Em 1897 0 Burgo do Itacaiunas tinha 80 habitantes.

Coudreau chega à pequena Vila do Lago Vermelho (Itupiranga) em 9 de fevereiro de 1897 e das 10 casas e seus 50 habitantes, encontra apenas uma casa habitada, pois os moradores das outras nove casas haviam fugido devido a invasão de formigas de fogo!

Em 1898, surgem as primeiras casas no pontal entre os rios Tocantins e Itacaiúnas dando origem a cidade de Marabá. A seguir, trataremos das primeiras ocupações não indígenas no Rio Araguaia: Em 1802 houve a criação do Presídio de São João do Araguaia (território goiano).

E 1850, existiam os presídios de São João do Araguaia, Santa Maria do Araguaia, Santa Izabel e Santa Leopoldina.

Memória dos Martírios
Églese de S. João do Araguaya (Ilustração do livro de Coudreau)

São João do Araguaia

Em 1862 foi criado o do presidio de São José do Araguaia . Quatro anos depois é criado o Presídio de São José dos Martyrios, estando localizado no lado goiano, pouco acima da Ilha dos Martírios. Alguns anos depois o Presídio de São José dos Martyrios é desativado.

Em 1894 início da Vila de São Bento, pouco acima de São João do Araguaia. Em 1897, Coudreau informa que a Vila tem 10 casas de palha.

Segundo Coudreau em 1897 São João do Araguaia tinha 50 casas e 200 habitantes Em 1897, o antigo Presidio de São José dos Martyrios, passa a ser a Vila São José do Amparo, com 6 casas de palha e 35 habitantes, aparentemente todos da mesma família, cujo chefe é um cego por nome Wanderley. Coudreau informa também que, parte dos antigos moradores da Vila de São José do Amparo mudaram-se para os campos no lado paraense, criando uma pequena Vila. Como esta Vila está no lado paraense e próxima de onde hoje está a Vila de Santa Cruz, acreditamos que possa ter dado origem à Vila de Santa Cruz, depois de 1897, pois Coudreau em sua passagem , não fala da existência de vila por ali.

Memória dos Martírios
Rio Araguaya (ilustração do livro de Coudreau)

São Vicente

Mas retornemos com Coudreau, subindo o rio Araguaia em 1897 e assinalando as ocupações: pouco acima de São João do Araguaia, próximo à grande ilha de São Vicente, na margem paraense está a pequena Vila de João Matheus com uma dezena de casas de palha, pouco acima da Vila de João Matheus, na margem goiana, está o povoado de São Vicente com 40 casas com aspecto muito pobre). Há também uma capela. A Vila tem cerca de 200 habitantes.

Em frente a São Vicente, no lado paraense, está a pequena Vila de Magnífico com apenas 5 casas.

Mais acima, no lado goiano, está o sítio denominado Falcão, com apenas duas casas.
Na região do igarapé Chichá, está o sítio Chichá de propriedade do maranhense Jacintho Alves Lima que ali vive há cinco anos. Portanto a ocupação seria de 1892. Além das plantações, tem também um engenho para produção de cachaça. (Seria a atual Santa Isabel do Araguaia?)

Memória dos Martírios
Fecho dos Martyrios (Crédito: Noé von Atzingen)

Cachoeira Grande

O próximo ponto digno de nota é a Cachoeira Grande (cachoeira de Santa Izabel) que é descrita minuciosamente. Pouco acima da Cachoeira Grande, descreve a Cachoeira dos Martyrios, que nada mais é que o pedral entre a margem paraense e a Ilha dos Martírios.

O estreitamento do rio nesse ponto é denominado Fecho dos Martyrios. Acima do Fecho dos Martyrios, no lado paraense está a Vila dos Campos, com remanescentes do Antigo Presídio de São José. Nesta região, entre a ilha dos Martírios e a foz do Ribeirão Sucupira, documentamos em 1990 um longo muro de pedra (vestígios da Vila dos Campos?). No lado oposto, Coudreau diz que está a Vila de São José do Amparo com 6 casas e 35 habitantes.

Acima da Vila de São José do Amparo, está a Vila de Remanso dos Botos com 56 pessoas. Pouco acima do Remanso dos Botos, na margem goiana, está Xambioá. Quando da passagem de Coudreau, o presidio de Xambioá não mais existia, havia uma pequena vila com 4 casas que pertenciam ao Sr. João Crysostomo. Coudreau encontra-se no local com os missionários dominicanos: Frei Gil de Villanova e Ange Dargainaratz. Acima de Xambioá, Coudreau relata que na região do travessão da Barreira Branca, na margem direita do Araguaia encontrou o local onde foi o Presidio de Barreira Branca.


BIBLIOGRAFIA
* Coudreau.H.1897 Voyage auTocantinsAraguaya
* Couto de Magalhães. Viagem ao Araguaia
* Mattos M.V B de, 2013 História de Maraba
* Reis e Pereira. 2007 Carolina
* Silva, A. L.S. e Ertozogue, M.H. 2013 Presidios Militares e o Povoamento às Margens do Araguaia: Negociações e Conflitos. Unitins

Compartilhe:

DEIXE UMA RESPOSTA