Por Paulo Atzingen*
Essas jangadas prontas pro mar
Me trazem imagens
da história de Pernambuco
do brasileiro mestiço
ao puro
uma história sua
minha
de como se formou
Porto de Galinhas.
Mesmo que eu não consiga
provar
tudo o que aconteceu
no passado
é ponto pacífico afirmar
que o que eu vejo
e escrevo
tem base em estudo
documentado.
Pra começar esse descobrimento
por décadas a fio
entulhado na cabeça do aluno
de que Cabral chegou
ao Brasil
primeiro
logo é descartado.
Quem avistou o país
pela primeira vez
antes do português
foi Vicente Yáñez Pinzón
do país vizinho
que viu em janeiro
de mil e quinhentos o
Cabo de São Agostinho.
Este Muro Alto de arrecifes
e corais cortantes
de caravelas lusas
foi ancoradouro
laje de concreto espontâneo
impregnada de ouriços
superada pelos patrícios
em busca do pau brasil
prata, especiaria e
ouro.
Finado o ciclo da Madeira
que servia para tingir pano
da sociedade europeia
tem início o comércio
do escravo africano
trazido em gaiolas
de galinhas d ‘Angola
pelo oceano.
O plantio da cana
que fazia o melaço
foi a principal fonte
de renda no tempo
que não havia banco
nem cangaço
o açúcar passou a ser
a moeda de troca
o ouro branco.
Esse Porto das Galinhas
lá atrás chamado Rico
ditou as relações econômicas
de todo estado pernambucano
e do Brasil pós-colonial
os sinhozinhos de engenho
em consorte com a coroa
e a igreja
prosperaram a região
fortunas foram formadas
desde então
aqui e em Portugal.
A terra muito fértil
de massapê
o clima muito bom
formavam o ecossistema
para também plantar
algodão.
Esse conjunto
de culturas e propriedades
deu à capitania
uma indiscutível prosperidade.
A Batalha dos Guararapes
abriu caminho para que se firmasse
a identidade brasileira
em Jaboatão
expulsando de nossas águas
as naus holandesas.
No Norte desde então
Pernambuco leva
o codinome de Leão.
Com a Abolição da Escravatura
e o advento da República
São Miguel de Ipojuca
foi criado por escrito
e em 12 de novembro
de Mil Oitocentos
e noventa e cinco
Ipojuca vira distrito.
Os royalties do município
foram ganhando corpo
com a implantação de um estaleiro
uma grande Usina
siderúrgica
a Refinaria Abreu e Lima
e um Porto
para navios petroleiros.
Por outro lado
essas jangadas prontas para o mar
Trazem à lembrança
a casa à beira mar
uma economia mais pacífica
de viver e deixar sonhar.
Uma casa sempre aberta
à amizade
uma rede balançando ao vento
para conquistar
o visitante
o turista e
quem chegar.
No meio dos anos oitenta
do século vinte
mais exatamente em fevereiro
de oitenta e quatro
o primeiro hotel é criado
inspirado no lugar
seu fundador
Artur Maroja
lhe nomina: Solar.
A casa de amigos
outrora
que tinha o nome
vivenda
passa a ser negócio
e a hospedagem encarada
como uma forma de gerar
emprego e renda.
Dos anos oitenta em diante
o negócio da hospitalidade
se tornou ainda mais
profissional
a beleza do destino se
juntou à alegria
de meninos
e foi acrescentado
um dado:
o turismo passou a ser
a razão do trabalho
o pão sobre a mesa
da venda do caranguejo
à abertura de empresa.
Essas jangadas prontas para o mar
me inspiraram fazer essa trova:
Porto de Galinhas
em sua alforria
distribui a quem quer que seja
essa possibilidade
de um novo dia
liberdade e espaço
mas mais do que isso
renova a nossa esperança
de um país mais justo
à mulher ao negro
ao velho ao índio e à criança
a todos aqueles que perderam
o seu norte
o seu sol que irradia
paz, amor, trabalho
e democracia.
*Uma homenagem à economia do Novo Milênio. Paulo Atzingen, Porto de Galinhas, 1° de dezembro.