No dia Nacional da Pizza saio para comprar os penduricalhos que o prato italiano requer. Vou aqui pertinho no supermercado do bairro. Ao cortar caminho por essas ruas transversais que desembocam na avenida, vejo um cachorrito ciscando (sei que é a galinha que cisca, mas o cachorro da minha crónica também cisca) a calçada de uma casa resguardada por uma grande porta de aço. “Os donos saíram e esqueceram do bicho? “Está perdido e sem dono? ” passo por ele com essas duas ou três perguntas correndo na mente, serelepes. O bicho, branco mas com as franjas encardidas, era um misto de cachorro de casa com cachorro de rua, mas guardava uma certa dignidade no olhar e no porte. Não me abanou o rabo fazendo festa nem resolveu me seguir como os tais cães-sem-dono. Deixa estar. Segui para o supermercado. Compra feita, voltei pelo mesma avenida e cortei pela transversal. O cachorrito estava lá; cavocando a fresta entre a porta de ferro e a coluna de concreto do muro alto. Tomei uma decisão: vou tocar a campainha e avisar que o cachorro quer entrar. “Que donos são esses que deixam esta criatura na rua, ainda mais no inverno”… pensei já dando o veredito aos donos da casa: desalmados!
Fui atendido pelo dono da casa, meio desconfiado.
– Seu cachorrinho tá na rua? Ele quer entrar….
A face do homem mudou. Abriu um sorriso e disse que sua cachorra, a Filomena, estava no cio… enquanto espremia o focinho da cachorra – uma Rottweiler enorme – contra a porta de aço impedindo-a de sair e encontrar com seu pretendente.
Mal entendido desfeito, segui meu caminho. A porta de aço fez ‘brammm’ fechando novamente. Dez passos ladeira abaixo, olhei de volta. O cachorrito continuava lá farejando pela fresta o cio da cachorra Filomena…
Moral da história: portas de ferro podem surgir na sua vida, mas jamais desista!!!!