Então, eu tenho uma história do papai que reforça aquela imagem que nós temos dele, né, aquela lembrança de um cara muito bem humorado, na pior das circunstâncias.

E ele vivia mesmo uma das piores circunstâncias da vida que era, ele estava internado na Santa Casa de Campinas, já quase desenganado pelos médicos e eu era, eu tinha, eu tava incumbido, tinha sido incumbido, por vontade própria também claro de ir, acompanhá-lo, passar umas noites com ele, ser o acompanhante.

E ele tinha esse problema grave de contenção urinária e durante a noite toda ele me pedia prá acompanhá-lo até o banheiro. Mas, me pedia naquele jeito do papai, assim, eu vou tentar descrever: (imitando)

– “Pauló, me leva no banheiro?”
Aí eu respondia: – “Papai, eu já levei o senhor faz 2 minutos”.
– “Levou”?
– “Levei”.
– “Não. Não levou, não!”

E ele me convencia e eu tirava ele da cama e conduzia ele até o banheiro e lá ele ficava, 10, 15, 20 minutos. Acho que não fazia xixi nenhum e voltava prá cama.
E eu tentava dormir, pegar um pouco no sono, era impossível, ele passava 5 minutos, ele:
– “Paulóóó, quero fazer xixi”!
– “Papai, o senhor acabou de, acabei de levar o senhor pro banheiro”!
– “Aah, Paulo, não! Eu quero ir pro banheiro”!
– “Tá bom”!

E essas repetições ocorreram assim, 4, 5, 6, 10 vezes, né, naquela noite.
Chegou uma hora que ele me chamou, eu, acho que acordei de um soninho assim, de 5 minutos, né, cheguei na beira da cama, né, peguei ele pelo braço, assim, com um pouco de força, ele olhou prá mim e disse a seguinte frase:

– “Nossa, Paulo! Que zóio grande meu filho…parece que tá arrancando mandioca!”

(Relatado por Paulo Roberto von Atzingen, transcrito por Mônica von Atzingen)

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